quarta-feira, 30 de março de 2011

Esse texto... não me canso de ler...

Há um Bukoswky

Segunda-feira, meia noite. Em ócio displicente enrolo um cigarro e uma taça de vinho.
Há um Bukowsky dentro de mim.
Não basta ser sensual, tem de ser sórdido. Eu não consigo açoitar belas almas. Eu não vejo propósito em me dirigir às pessoas boas, e as que fingem serem-lo, ah, me cansam tanto!
Nunca consegui me decidir se o que há nos masoquistas é uma sinceridade de auto-avaliação, ou algum senso de justiça poética. Qualquer das duas coisas é sórdida. É como se dissessem: sim, fui má, e serei novamente. Mas admito para ti, só para ti, e espero que me punas, porque farei novamente.
As belas almas não são sinceras. Há algo de irreconciliável nelas, não conseguem encarar a si. Ainda desconfiam da habilidade de mentir, e essa falta de confiança os faz mentirem mais, e mais, mentirem beleza sozinha em si, desacompanhada de qualquer coisa genuinamente humana. Eu aposto minha mão esquerda, como as belas almas não dormem bem quando põem a cabeça ao travesseiro.
Não são jamais convencidos da própria crueldade como os masoquistas que me agradam tanto. O chicote não é uma extensão do corpo do Sádico, é uma extensão da mente do masoquista.
Que faz um santo, dentro dessa zona? Eu os amo. As pessoas me soam falsas sem estas outras pessoas.
O Sádico é Karma, causa e conseqüência, uma palavra dita e uma pedra arremessada. Pouco em realidade nos distancia do masoquista, provavelmente um mínimo detalhe. O mesmo nos habita, embora diferimos de comportamento.
Não possuímos a delinqüência do masoquista, e em função disso, o Sádico se torna um princípio organizador do caos volitivo daquele. Mas as diferenças param por aí. Um masoquista adulto, paciente. Ser Sádico dói.
Não servem as coisas sórdidas produzidas. Bastam as genuínas. O masoquista exibe isso tudo no contato, e dá, a saber, o quão terrível é alguém que é tão cruel que se faz açoitar: que desafia a dor a puni-lo, e recebe com prazer e desdém o resultado, posto que a temível conseqüência da dor, que todos evitam, é para eles um brinquedo. Eles são eternamente impunes.
Não é nada pessoal. O chicote não é uma extensão do Sádico, recordem-se. É uma extensão do masoquista. Nada pessoal. O Sádico é um bom amigo, e tudo é muito confessional.
Jamais queira ler a mente de um masoquista. É brutal. Se no Sádico a brutalidade recebeu um fino polimento, no masoquista ela é crua, e encontrar-se com ele é encontrar-se consigo mesmo. É por isso que ser Sádico dói. É por isso que Eu Sádico gosto do que é sórdido: nada disso foi feito para ser apartado do cinismo cruel que somos.

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